terça-feira, julho 22, 2008

Libertação...


" Abre os braços e ergue-os, como se quisesses tocar a superfície espessa de uma sombra."



Imagem: India LuaSelvagem
Texto: Baptista-Bastos

Prisioneiros da invenção de nós mesmos...


Sabes quando sei que o que me rodeia é tudo menos a realidade?
Quando acordo de manhã e me recordo de cada momento dos meus sonhos...

O nosso inconsciente é um lugar sem tempo e sem espaço...
O pensamento humano é demasiado livre e ilimitado para pertencer a uma realidade com tempo e espaço como são os dias que nos perseguem ...

... o pensamento é um lugar sem tempo mas com Alma ...
... rastos de momentos ( esses sim, verdadeiramente reais) que se rasgam da vida quotidiana raptando dela o que realmente nos completa e realiza ... a verdadeira essência sem toda a treta de que não precisamos para nada ...

... na vida real, somos prisioneiros da invenção de nós mesmos.

... dentro de nós, a estrada persegue-nos. Não somos nós que percorremos a estrada ...

terça-feira, julho 08, 2008


Saberei eu distinguir entre a realidade e a ficção?
Qual é a verdadeira interpretação do que me é real?

Nos bastidores da vida sinto-me criança...
Verdadeiramente livre, como que absolvida de um crime que nunca cometi...

Será esta a razão, por mais fútil que seja, pela qual fujo da realidade que me cerca?
Será esta a eterna aspiração a que me acorrento?

sexta-feira, julho 04, 2008

Fotografias ...

... pedaços de imagens, retalhos da realidade que transformamos em papel ou nem sequer isso ... tenho milhares ( sem exagerar!) de fotos para imprimir e nem a isso me dou ao trabalho ... ficam para aqui perdidas em cds, ou num disco rígido até que se perdem e nunca mais volto a querer saber delas ...

... fotografo ( e escrevo) porque gosto desse escape à realidade ... gosto de olhar uma imagem e entrar nesse mundo monocromático. Gosto de lá estar, rodeada de cinzas, brancos e pretos, olhar à minha volta e sentir-me em casa ... gosto de estar dentro de uma imagem e olhar para baixo, ver-me nela, ver os meus "pés descalços" na calçada e olhar em frente e ver o mesmo velho que vive no meu pensamento ...

... mas tudo isto são tretas! Tretas, mentiras, ilusões e não passam disso ...

A realidade está aqui ... sem dar à chave num carro que não pega ...
E os sonhos, a imaginação, continua a não passar de imagem por imprimir ... e eu continuo sem conseguir entrar no meu mundo ... continuo trancada num cofre no qual me trancaram e do qual deitaram fora a chave ...

Sinto-me expulsa .. completamente expulsa da minha própria vida...

Expulsa da minha alma ...
...expulsa do meu ser ...

quinta-feira, julho 03, 2008

A Sombra do que somos...


A Sombra do que somos ... do que sonhamos ser ... do que nunca nos tornamos ...

Este é um daqueles dias. Tenho de sair de mim. Não aguento. A vontade de partir, de me rasgar da minha própria alma, de apagar os meus pensamentos, de raptar a minha vida.

Pego nas chaves do carro e parto. Não! Merda! Esqueci-me do livro. Saio do carro, abro a porta de casa, sala, quarto, cozinha, corredor, porra que nunca sei onde ponho as coisas.

Debaixo da cama. Espreito. A capa. Vazia.

Pego no livro, nas chaves, nos chinelos, fecho a vida atrás de mim.

Abro a porta do carro, fecho, levo as chaves à ignição, porra que nunca pega à primeira, estás como eu, agarrado à rotina.

Arranco e deixo atrás de mim uma nuvem de poeira na estrada. Deixo as palavras que me corrompem o cérebro, deixo os gestos que se despegam de mim, o sorriso falso quando finjo ser simpática com as pessoas, o pesadelo de pensar em estar com alguém ...

Porra, onde estou? Já nem sei há quanto tempo ando na estrada ... terrinha simpática, esta! Branca, minimalista, quase que pura, não fossem os olhares que me perturbam das gentes que passam ...

Saio do carro ... sento-me na berma da estrada. Sem alcatrão. Calçada. Não eu, a estrada. Eu deixei os chinelos no carro ... que horror! Tenho os pés pretos. Como a minha alma.

Passa um velho por mim. Curiosamente são os únicos que tenho paciência para aturar. Das pessoas em geral. Já lhes resta pouco tempo. Não se preocupam em agradar, são falsos, estão-se nas tintas para mim, porque já não conseguem agarrar a vida quanto mais ter forças para lutar contra a minha antipatia.

Olha-me fixamente. Não me vê. Concentrou-se nos meus pés descalços e na minha alma despida.

Merda! Esqueci-me do livro no carro. Levanto-me, abro a porta, onde raio pus o livro?, lá está, a capa preta, nua, vazia.

(Re)sento-me. Porra que só agora me apercebi que a calçada estava quente. Tenho a sola dos pés a queimar!

As pernas cruzadas. O livro aberto. Olho em volta, olho as páginas, olho em volta. Nunca me consigo concentrar à primeira! Nunca me consigo concentrar sequer. Não consigo fazer distinção entre a ficção do meu livro e a realidade que não me consegue rodear. Porquê eu? Porquê aqui? Porquê neste momento? Porque passa o velho por mim, agora, não daqui a pouco quando já não estou cá?Porque me olha olhos nos olhos sem me dizer nada, porque me pensa, porque me fica no pensamento? Que sentido faz tudo isto?

Que sentido? Que sentido fazem as sombras? Que sentido fazem existir?

Que sentido...

faz...

EU existir?